Passavam a vida colecionando objetos descartados
pelas outras pessoas. Os colecionadores descobriram
que uma vez que se tenha uma grande e variada
quantidade de artigos descartados, eles se tornam
valiosos novamente.
Um colecionador tinha uma provisão esplêndida
de garrafas de vidro. Ele chamava a atenção pendurando
algumas em árvores e criando música batendo com varas.
Outro colecionava sapatos de todos os tamanhos.
Ele comentava o quanto variava o tamanho e as
formas dos pés das pessoas.
Havia colecionador de panela, colecionador de selos,
de taco de golfe e colecionadores de chapéu, de livros
cômicos e colecionador de cartão esportivo.
Na verdade, era uma verdadeira coleção de colecionadores.
Um dia um velho homem chegou à cidade e vagando
pela aldeia perguntava onde ficava a praça dos
colecionadores. Ele levava um grande pacote,
mas não parecia estar carregado nem muito pesado.
Ele encontrou a praça dos colecionadores
e se alojou em um canto.
Naturalmente, os colecionadores descobriram
que havia um novo colecionador na cidade,
e eles queriam saber o que ele tinha no pacote.
Ele respondeu que nada havia mas apenas seu
almoço e uma capa de chuva para o caso de chover.
- Você quer dizer que não tem uma coleção?
- eles perguntaram - Você não é um colecionador?
- Oh, sim. - ele respondeu
- eu sou um grande colecionador.
Mas o que eu coleciono não cabe em um pacote
ou uma caixa. Eu coleciono os problemas
e as preocupações das pessoas.
Esta era uma idéia estranha e lhe
pediram que explicasse.
- Bem, veja você, eu descobri há muito tempo
que entre as coisas que todos querem se livrar existem
as preocupações, os problemas, fardos pesados,
tristezas, tempos difíceis - todo este tipo de coisas
que jogam as pessoas para baixo e faz suas vidas
mais tristes.
Assim eu me ofereço para colecionar estes
problemas e elas se sentem bem. Não é simples?
Alguns dos colecionadores pensaram que era
uma convicção tola e possivelmente isso era
perigoso à reputação de sua profissão.
O velho não parecia prejudicar ninguém,
entretanto, assim eles o deixaram só.
Logo apareceu alguém e perguntou como ele
colecionava problemas, e ele respondeu,
- Bem, há algo provavelmente em sua vida
que o aborrece agora mesmo
- um pouco de preocupação que você tenha.
Me fale um pouco sobre isto e eu a acrescentarei
à minha coleção.
- Mas como isso me ajudará?
Você pode desaparecer com o problema
só porque lhe falo sobre isto?
- Não, mas você se sentirá melhor.
Tente.
Assim a pessoa falou para o velho sobre algo
que era um problema. Quando a história terminou,
o colecionador de problemas acenou com a cabeça
algumas vezes, elevou as mãos como se erguesse
algo pesado e fingiu colocar no pacote.
- Pronto! Eu guardei este. Como você se sente?
Perguntou.
A pessoa que tinha o problema respondeu:
- Estranho. Me sinto bem. Eu acho que posso
controlar o problema muito melhor agora.
Realmente funciona!
As palavras se espalham ao vento.
Logo havia uma multidão em volta do
colecionador de problemas.
Um dia, uma mulher apareceu na aldeia
caminhando lentamente e com considerável
dificuldade. Logo a levaram ao colecionador
de problemas. Quando ele explicou a ela que tipo
de colecionador ele era, ela começou a lamentar:
- Oh, você não sabe quantos problemas e pesados
fardos há neste mundo. Eu venho de uma cidade
onde há mais problemas do que em qualquer outro
lugar. Todos sofrem e ninguém tem qualquer
esperança. E o pior é que as autoridades da cidade
prosperam passando por cima dos problemas
do povo. É um lugar horrível, desesperador.
Eu tive que partir.
Era a única esperança que eu tinha.
O colecionador de problemas ficou sério.
Se levantou e ergueu o pacote com um gesto
que era mais lento e mais doloroso que o normal.
Depois de um longo silêncio, falou lentamente.
- Eu tenho que ir até lá.
Os aldeãos e a mulher fizeram um grande protesto.
Eles não queriam perder o colecionador de seus problemas.
Tinham medo de como ficaria a cidade e
lhe imploraram que ficasse.
O velho se escapuliu no meio da noite.
Muito tempo se passou até que um cansado
jovem entrou na aldeia. As pessoas sabiam,
sem perguntar, que ele vinha da cidade.
Eles o ajudaram da melhor forma que podiam,
e quando ele estava se sentindo melhor, lhe perguntaram
se sabia do velho que tinha partido para a cidade várias
semanas atrás.
- Conheci sim! Este homem entrou quieto na cidade
e, no princípio, ninguém o notou. Então de vez em
quando você poderia vê-lo conversando com pessoas
- escutando principalmente. Quando um pessoa terminava
de falar, ele curvava a cabeça e fazia estranhos gestos
com as mãos e a pessoa começava a se sentir melhor.
Pela primeira vez em um longo tempo, as pessoas da
cidade começaram a se sentir melhor e ter um pouco
de esperança.
- Sim, nós sabemos. Ele fez isso aqui também.
Respondeu um dos aldeãos.
- Bem, não levou muito tempo para as autoridades
o notarem. Lhe mandaram partir e deixar de se intrometer
nas vidas de outras pessoas. Ele simplesmente recusou.
Disse o jovem da cidade.
E com os olhos tristes e um nó na garganta, continuou:
- Eles o colocaram na prisão, mas lá ele colecionou
os problemas dos outros prisioneiros. Finalmente,
as autoridades decidiram que ele era uma ameaça
subversiva ao sistema. Assim eles o executaram.
Os aldeãos ofegaram.
Alguns começaram a chorar.
- Eu sinto muito por lhes trazer estas tristes
notícias. Ele também era meu amigo.
- É doloroso para nós, você sabe.
Como faremos agora que ele morreu?
De repente o rosto do jovem ficou iluminado.
- A idéia ainda funciona! Ele exclamou.
Colecionar problemas ainda funciona!
Você pode fazer isto para mim, e eu posso
fazer isto para você.
Ele só nos mostrou como fazer!
O jovem saltou, cheio de energia e com
força renovada.
- Estou voltando para a cidade!
- Mas o que fará você por lá?
- vários aldeãos perguntaram em harmonia
- Você ficou doido? Lá existem muitos problemas.
- Exatamente! Exatamente! - ele continuou
- É por isso que eu vou. Aprendi a lição, vou ajudar
as pessoas a se sentirem melhor.
Me tornarei um colecionador de problemas!
O que tenho a fazer é simples: basta ouvir
as pessoas. Fazer com que elas se abram,
desabafem e, assim, reflitam melhor, sintam-se
mais leves. E hei de espalhar o que aprendi.
Hei de criar novos colecionadores de problemas.
Texto: Leonard Remington
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