Ele olha o alvo, e reza baixinho para
não errar.
Olha a bolinha delicadamente presa
à ponta dosseus dedos, e… arremessa!
Viver é entregar-se a um arremesso certeiro
desse menino:
o
Tempo.
Submetidos à lei da gravidade e das
gravosidades do mundo, a vida é o
gozo
desse breve infinito instante de voo.
Pois o alvo do Tempo é a morte e ele
não erra nunca.
Na trajetória, não há certezas, não há
garantias.
Há
somente essa limitada
liberdade de sonhar a asa, de vislumbrar
a paisagem, de
apreciar a viagem
inventando,
em nós, as nossas próprias e momentâneas
metas:
amar agora, trabalhar agora, perdoar
agora, conhecer-se agora, iluminar-se
agora,
viver agora, ao agora entregar-se.
E ainda que o menino Tempo venha inventar
outros
arremessos, em vidas ainda não sabidas,
o futuro, tal qual o passado, são meras
projeções
e não podem, nunca, ser maiores que o presente.
O menino Tempo sabe disso.
Sabe que todo instante é uma
versão
da Eternidade esculpida em miniatura,
pois não temos nos olhos o preparo
para vislumbrar o infinito.
E ele nos acompanha orgulhoso de si,
na alegria do
seu coração puro, infantil.
Sabe que esse arremesso é sem preço.
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