Para a Psiquiatria, a depressão é
uma alteração do humor
caracterizada por tristeza profunda, acompanhada de
apatia,
desânimo, inapetência, desinteresse sexual e pela higiene,
insônia e um
sentimento de falta de sentido na vida.
Esses sintomas podem ou não se alternar
com seus contrários:
humor exaltado, denominado “mania”, ou em grau mais leve,
hipomania.
Se por um lado os sintomas depressivos nos
fazem sentir pesados e pesando aos
que convivem conosco,
os de mania nos fazem sentir ótimos, não necessitando de
nenhum tipo de ajuda, o que, entretanto já não se dá com
os familiares, que podem
perceber certas inadequações,
falta de limites, gastos exagerados e assim por
diante.
Esses quadros nos levam a
perguntar:
se eu tenho esses sintomas, sou doente?
Estou doente?
O que se passa
comigo?
A Psicanálise traz sua
contribuição no sentido
de pensar estas questões.
Embora não seja claramente
detectável, há sempre
um evento desencadeador dos sintomas, que pode
ser um
sentimento de perda, de luto. Às vezes ele
pode passar despercebido, mas está
lá.
O que acontece é que cada vivência
desse tipo em
nossas vidas “engancha” em outras anteriores,
ainda que possamos
não nos dar conta disso,
potencializando cada uma delas.
É importante distinguir quando se
trata de tristeza
como resposta ajustada a situações normais de
vida, mas que
cada vez mais temos dificuldade de
conviver. Infelizmente, estamos cada vez
menos
“preparados” para suportar os sentimentos de
tristeza pois além de os
evitarmos, estamos muito
frequentemente em busca do prazer, da satisfação
e da
preferência imediata.
Pode parecer estranho, mas é muito
comum em
adolescentes sentimentos depressivos, pelo luto,
um luto difícil de
fazer diante da perda do corpo
infantil, das vivências e expectativas da vida
de
criança que, comparadas às novas e complexas
expectativas do mundo
adolescente, eram familiares
e administráveis pelo jovem.
Também parece estranho falar que
mães que
recentemente tiveram seus bebês, acolhidos
com muito amor, também
vivam sentimentos
de luto – e elas vivem! Isto porque, além de
muitas mudanças
hormonais, o estado de humor
da gestante vai sofrendo modificações: parece
que
toda sua vida se lentifica, seu foco de
atenção vai se estreitando em torno de
tudo
o que diz respeito ao seu bebê, o que é muito
interessante no sentido de
colocar a mãe em
sintonia com ele, favorecendo que lhe ofereça
os cuidados que
necessita.
Após o nascimento, a mãe se depara
com o
vazio no seu corpo, com as demandas do bebê,
com os confrontos entre o
bebê que havia
imaginado e com o bebê real, que agora ocupa
tanto espaço na sua
mente e na sua vida.
Consideramos tanto essa
‘depressão’ pós-parto
como a ‘depressão’ adolescente uma depressão
normal. Isso
não quer dizer que desconsideremos
a ocorrência de quadros com características
muito
intensas, com enorme prejuízo para a vida da mãe
ou do adolescente, ou de
qualquer pessoa, e que
demandam então uma atenção especial.
Nos casos de depressão em
adolescentes, deve-se
prestar muita atenção aos sinais que possam
indicar algum
risco de suicídio, especialmente
se além do isolamento e dos sintomas já
mencionados, surgirem também outros sintomas,
tais como ideias estranhas, ou
mesmo delirantes,
acompanhadas ou não de alucinações.
No caso de crianças, para as quais
costumamos
ter a visão idealizada da “infância feliz”, muitas
vezes fica
difícil detectar sintomas depressivos.
Crianças deprimidas podem ser vistas
como
crianças boazinhas e quietinhas, obedientes e
tímidas. Por outro lado, as
crianças com manifestações
hipomaníacas podem ser confundidas com crianças
decididas, ativas, bem resolvidas.
O que se passa é que vivências de
perda provocam
a necessidade de elaboração do luto, processo no
mais das vezes
difícil de conviver, muito sofrido
para quem o vive e também difícil para as
pessoas
próximas suportarem. Desse modo, lançamos mão
de mecanismos de defesa
contra o sofrimento, sendo
que a exaltação de humor, a já mencionada “mania”
ou
hipomania, é uma das formas de nos defendermos,
de tentarmos não entrar em
contato com nossas dores.
O problema é que tais defesas
prejudicam o trabalho
de luto, prolongando e até cronificando os sentimentos
de
perda, podendo acarretar em prejuízos para o
desenvolvimento da criança e mesmo
para o adulto
conseguir encaminhar sua vida com maturidade.
Assim sendo, é muito importante
que estejamos
atentos aos sinais que possam indicar que uma
tristeza deixou de
ser algo “simples” e passou a
se intensificar, afetando nossas vidas ou de
alguém
de nosso convívio.
Pode-se buscar tratamento
psicoterápico,
psicanalítico e mesmo em alguns casos pode haver
a necessidade
de administração de medicamentos
como recurso auxiliar.
As famílias que ajudam seus
membros a enfrentar,
conviver e a superar perdas podem muitas vezes se
ver
diante de limites. Daí a necessidade de ajuda
especializada, o que não deixa de
ser também uma
forma de demonstrar amor.
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